. Fox...
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A estrada ficou suja de sangue, e pelas marcas via-se que ele não tinha tido morte instantênea, ainda andou um pouco, provavelmente sem perceber o que lhe tinha acontecido...Foi tudo tão rápido, algo com uns olhos muito brilhantes na noite passou-lhe por cima e seguiu o seu caminho, sem parar sequer um instante...
Na segunda feira passada, dia 7, um dos meus gatos morreu, o meu lindo Muschi foi atropelado por algum idiota que nem parou, nem se preocupou com o que acabara de acontecer.Ele ainda não tinha 4 meses...
Sei que acontecem acidentes, por vezes não há tempo para travar, ainda há umas semanas a Kita (dos Pensamentos Azuis e Amigos Indefesos) atropelou sem querer um gatos que se atravessou à frente do carro, mas ela ia devagar e parou para ver se ainda havia salvação para o gatinho. Ela chorava e tremia, realmente chocada e preocupada com o que tinha acontecido, mas a atitude indiferente deste condutor foi a de uma pessoa sem coração...
Apesar de ninguém ter presenciado o acidente, excepto o próprio Muschi e o assassino, sei que foi assim que aconteceu, pois meu pai estava no meu quarto (que fica mesmo de frente para a estrada) a jogar computador, mesmo ao lado da janela aberta e com a persiana escancarada, estavam umas pessoas na borda da estrada, a conversar ao fresco depois de uma caminhada nocturna.
Meio minuto depois de se terem ido embora fui ver se o meu cão, o Fox, estava lá por fora, para o trazer para dentro, pois já era noite, cerca das 22h, quando vejo os meus gatinhos gémeos, o Sherlock e o Muschi, que sabia andarem a brincar no jardim, enquanto que o Sherlock andava nas escadas vi que o Mushi estava deitado no meio da estrada, de costas para mim, e a mexer o rabo, pensei que estava a descansar. Achei um bocado estranho, ele nunca teve a mania de se deitar no meio da estrada, fui buscá-lo já que aquele não era o lugar mais apropriado para tirar uma soneca...
Quando cheguei mais perto dele chamei-o, mas ele não se mexeu, estava imóvel, achei estranho...até que vi o sangue, uma pequena mancha redonda ao pé da cabeça, e à volta marcas em forma de pêlos (de ele se ter mexido).
O meu coração disparou, toquei-lhe mas ele já não tinha qualquer reacção, estava morto...
Fui a correr ter com o meu pai e disse-lhe que o Muschi tinha sido atropelado, a princípio não acreditou, pensava que estava a gozar, mas eu disse-lhe "olha pra estrada" e então ele viu-o, ali, deitado,imóvel, morto...
Aquilo aconteceu naquele meio minuto, entre a saida das pessoas e eu abrir a porta, e o meu pai, ali ao pé da janela, em silêncio não ouviu sequer uma travagem. Ninguém parou, ninguém se importou...excepto nós, a família do Muschi...
Fomos logo buscar o gatinho, para o enterrar, quando abrimos a porta deparámo-nos com uma cena curiosa: O Sherlock, irmão gémeo do Mushi, estava ao lado do cadáver a lamber o seu maninho...tirámo-lo dali, depois o meu pai enterrou o Muschi.
Cerca das 00:30, quando a minha prima Kita chegou, dei-lhe a notícia, ela gostava tanto do Muschi quanto eu, ele era como que partilhado por nós. Quando ele nasceu, depois de muito tentar arranjar um dono, não achei ninguém que ficasse com ele, então a Kita, que já estava muito afeiçoada a ele, propôs-me ficar com ele que ela dava-lhe comida, pois o pai dela não queria mais gatos.
Sherlock e Mushi a mamar na Lucky (mãe)
O meu pai aceitou na boa, ele adora animais, e não se importava nada de ficar com outro (na altura ficámos com 5, mas o Aruk desapareceu algum tempo depois). Apesar da Kita ter comprado umas latas de comida ao princípio, eu disse-lhe que não era preciso, pagar a alimentação do gato, nós considerávamo-lo nosso, tal como todos os outros gatos. Como as nossas casas são apegadas (a minha e da Kita) ela via-o quase todos os dias. Sei que foi muito duro pra ela, tal como pra mim perder o Muschi...
Havia depois outro problema, o Sherlock... O manos sempre foram muito dependentes um do outro, estavam sempre juntos, e se se viam sozinhos desatavam a miar. Apesar dos gatos costumarem ficar lá fora de noite, deixei o Shelock e o Draco (irmão mais velho) cá dentro, pra meu pequenino não ficar sozinho.
Muschi e Draco
Ficaram os dois a dormir durante algum tempo em cima da mesa da cozinha, mas essas 2h da manhã, quando me ia para deitar, eles despertaram enquanto que o Draco queria ir lá para fora (e eu deixei-o ir) o Sherlock pôs-se a miar, vendo que o seu companheiro de brincadeiras, que o seu adorado maninho não estava ali para lhe fazer companhia, tentei ir deitar-me mas depois de várias tentativas de o deitar na sala, ou deixá-lo miar até se calar, deixei-o dormir no meu quarto, apesar de não gostar de dormir com gatos (quem dorme comigo é o meu cão, o Fox), pois eles ronronam muiro alto e eu só durmo em silêncio quase absoluto, e para alémdisso eles são muito madrugadores, mas fiz uma excepção.
Como já esperava, às 6h da manhã o meu "Lockito" acordou e estava eléctrico, não se acomodava, morta de sono tirei-o do meu quarto, mas ele miava, miava e miava,então o meu pai pô-lo lá fora para ele brincar à vontade. Apesar de ter miado um pouco, acomodou-se um tempo depois.
Agora, apesar de dormir lá fora sem miar, está um pouco dependente de nós. Quando quer dormir, tudo bem, mas quando está desperto e não vê ninguém põe-se a miar, então anda sempre atrás de nós e ficou muuuuito meigo. Mas de vez em quando lá volta aquela vozinha, que eu já conheço tão bem, a miar, coisa que antes da morte do Muschi era muito raro.
Sherlock e Muschi
Às vezes as pessoas dizem, depois de terem perdido um, que não querem ter mais animais, pois estes acabam por morrer e os donos sofrem, mas eu nunca pensei assim, se algum pet morre, quero logo arranjar outro, pois mais vale que eles sejam felizes, nem que seja por pouco tempo, do que sejam mortos à nascença, ou andem por aí nas ruas, à fome e ao frio, ou que estejam numa jaula minúscula e impessoal de um canil.
O meu Muschi morreu, mas não de maneira surpreendente e inédita, antes dele morreram da mesma maneira o Pantera, o Bóris, a Tuchinha, o Milú, o outro Milú, o Joli, a Fofinha, o Booky (estes 2 últimos cães eram dos meus vizinhos) e tantos outros cães e gatos, cujos nomes já esqueci... Esta estrada, esta recta que tenta os condutores irresponsáveis a pisar o acelarador com mais força, sem que estes se preocupem com o que possa acontecer. E desta maneira, de tempos a tempos, mais um animal é apanhado nesta armadilha mortal...